O Showmetech teve acesso antecipado ao jogo, que apresenta uma infinita de locais e recursos para serem explorados de diversas maneiras. A quantidade massiva de objetivos e localidades presentes no mundo do jogo não nos permitiu postar nossas impressões finais no dia do lançamento. Por outro lado, chegou o momento de debater como o título já é um dos melhores jogos do ano. Dezenas de horas após minha primeira morte nas Terras Intermediárias, vamos falar mais a fundo sobre o tipo de jogo que a FromSoftware faz hoje em dia e como Elden Ring se aproxima e, ao mesmo tempo, se afasta dessas convenções.

Usando a própria inspiração para novos ares

Dizer que “Elden Ring é um soulslike de mundo aberto” soa reducionista e simplista demais, mas também não é uma afirmação completamente errada. Alguns conceitos mais “diferentões” das obras da FromSoftware podem ser notados desde o longínquo ano de 1994 — quando King’s Field foi lançado para o primeiro console PlayStation —, sendo eles o combate metódico, o senso imprevisível de exploração e a forma lacônica de contar a história do mundo. Em 2009 e em 2011, respectivamente, Demon’s Souls e Dark Souls uniram algumas destas ideias mais clássicas de RPG a uma jogabilidade um pouco mais agradável, eternizando um memorável legado de excelentes chefes, ambientes e combate/travessia. De lá para cá, muitos jogos do próprio estúdio e de outras equipes ao redor do mundo se inspiraram nesse tipo de experiência mais desafiadora e complexa para tentar o sucesso no mar de jogos lançados dia após dia. Elden Ring não é diferente: é a culminação de um trabalho contínuo que começou há mais de 10 anos, passou por Bloodborne e chegou a Sekiro: Shadows Die Twice — eleito jogo do ano no TGA 2019. Está tudo ali, mesmo que renomeado ou redesenhado: a mecânica de Estus, a fogueira, o Nexus, o sistema de atributos para compor sua build, o posicionamento de inimigos nos cenários, as habilidades/vantagens alocáveis, armas para todos os gostos, etc. Por ser uma experiência que retém o DNA dos RPGs da FromSoftware, creio que o jogo ainda não é recomendado para todo tipo de público. Fico feliz com a quantidade razoável de pessoas que detestavam ou não se importavam com soulslike mostrando interesse em se aventurar no magnífico mundo aberto das Terras Intermediárias, mas acho importante colocar a expectativa no lugar correto para que não acabem se frustrando com a dificuldade.

Conhecendo as Terras Intermediárias

Em Elden Ring, você é um ser maculado (do inglês Tarnished) cujo objetivo é restaurar a ordem no mundo por meio do chamado Anel Prístino. O artefato foi estilhaçado e os pedaços foram roubados por poderosos inimigos, escondidos e protegidos dentro das Legacy Dungeons. Essas localidades remetem mais ao level design clássico da FromSoftware pela verticalidade de exploração, interconectividade de salas/corredores e por se tratarem de ambientes cheios de itens importantes para o desenvolvimento da lore do jogo. Entretanto, algumas destas fortalezas não necessariamente precisam ser resolvidas de uma mesma forma: o jogo permite abordagens mais ofensivas ou furtivas, a depender do seu estilo de jogo. Há também cavernas, catacumbas, grutas, tumbas e túneis — alguns desbloqueados por itens consumíveis, outros acessados através de portais. O tamanho e a qualidade desses labirintos subterrâneos variam, mas há sempre um chefe esperando por você na última sala para deixar o desafio mais apertado. Alguns destes cenários, inclusive, não permitem que nos transportemos para os locais de graça (vulgo checkpoints) habilitados e espalhados pelo mundo. O mundo aberto, por sua vez, é imenso, cheio de detalhes e bastante convidativo à exploração. Assim que coletamos o pedaço de mapa correspondente à região que estamos explorando, a tarefa de encontrar pontos de interesse se torna um pouco mais intuitiva. Pontes, torres, cabanas, igrejas, ravinas e planícies encharcadas são alguns dos ambientes que se misturam para formar regiões distintas em arquitetura, fauna, flora e população. O corcel mágico oferecido por Melina, Torrente, não é apenas para uso ocasional. A montaria serve o propósito de travessia pelo mapa de uma forma inédita no histórico da FromSoftware, nos permitindo acessar regiões pantanosas sem muitos problemas, deslocar rápido durante batalhas contra inimigos colossais e alcançar planaltos por meio de correntes verticais de vento espalhadas em pontos estratégicos do mapa.

Lutar para sobreviver

Você vai enfrentar criaturas, entidades e indivíduos dos mais diversos tipos durante a aventura. Portanto, é importante entender o que terá a seu dispor quando o assunto é equipamento de batalha, atributos, habilidades e vantagens. Em primeiro lugar, é preciso escolher uma classe entre as 10 disponíveis. Essa geralmente não é uma tarefa fácil em RPGs, tendo em vista que a escolha irá determinar a forma como você lutará e abordará situações durante o jogo, mas não se preocupe: as builds estão mais maleáveis do que nunca em Elden Ring. Portanto, escolha uma que se sinta confortável para as primeiras horas de jogo. Armas, cajados, escudos e algumas vestimentas específicas podem ser melhorados permanentemente, havendo também a possibilidade de alocar as chamadas Cinzas da Guerra. Esse recurso designa uma habilidade específica e também modifica afinidades (padrão, pesado, fogo, gelo, raio, oculto, etc.) nos equipamentos. Também é possível aumentar a quantidade de espaços disponíveis para talismãs (que funcionam como os anéis de Dark Souls III) à medida que enfrentamos novas ameaças no mundo. Cada grande lorde, após derrotado, nos fornece uma Great Rune e uma Remembrance. A primeira deve ser habilitada para uso em sua torre correspondente, podendo ser equipada em qualquer Local de Graça. Já a segunda pode ser transformada em equipamento, magia ou encanto na ilustre presença dos Two Fingers, símbolo da Ordem Dourada localizado na Mesa-Redonda. Por último, é possível invocar espíritos caso as batalhas estejam muito difíceis — no meu caso, optei por grupos maiores para chamar a atenção dos inimigos. Não são tão efetivos quanto invocar um jogador no modo multiplayer cooperativo online, porém podem ser úteis especialmente após aprimorarmos seus níveis.

Artisticamente memorável, tecnicamente lamentável

Assim como outros títulos do estúdio, Elden Ring não apresenta um mundo realista no qual a natureza é reativa e funciona como um personagem — como é o caso de Horizon Forbidden West e Red Dead Redemption 2. Entretanto, a direção de arte impacta bastante durante a jornada. Há localidades extremamente bem desenhadas tanto em estrutura quanto em estética. É uma pena que ainda não há um recurso para captura e edição de momentos como um Photo Mode. O design dos inimigos, chefes, NPCs, criaturas e qualquer outra forma de vida é digna de aplausos. A equipe de arte deve ter se esforçado bastante para chegar em conceitos tão equilibradamente desconfortáveis. Se você é fã de longa data da chamada série Souls, irá notar aparências e animações recorrentes para alguns tipos de inimigos — o jogo não se incomoda em herdar (ou copiar) alguns detalhes na cara dura. Esse fato, porém, não é um demérito para mim: é bom aproveitar assets novamente e economizar trabalho para outras características. A trilha sonora mudou um pouco, colocando músicas mais tranquilas durante a travessia no mundo aberto e notificando o jogador de perigos com a entrada de novos instrumentos na composição. Uma saída elegante para um tipo de jogo que costumava trazer orquestras monumentais e dramáticas apenas durante as batalhas contra chefe. O desempenho do jogo, porém, não é o mais agradável: cada uma das plataformas tem sua cota de problemas. A cópia que recebi para escrever o texto é de Xbox — joguei cerca de 80 horas no Xbox Series S —, mas também tive a oportunidade de conferir o jogo no PlayStation 5 e no PC. Curiosamente, jogar Elden Ring no Xbox Series S está melhor que no Xbox Series X. Isso porque o console mais modesto não atinge 4K de resolução, colocando todo o seu poderio na conta do framerate (mais estável). A versão de PS5 também está apresentando mais “engasgos” do que a de PS4, logo recomendo jogar a versão retrocompatível ao invés da atualização gratuita para a nova geração de consoles. No PC, como diz o ditado, o buraco é mais embaixo. A otimização do port para computadores deixa bastante a desejar até mesmo para máquinas mais potentes. A recomendação mínima de placa de vídeo já é um componente mid-end. O desempenho, por sua vez, cai tanto que fica difícil não se desapontar com a fluidez da imagem. Outro aspecto que deveria ser elogiado pela acessibilidade, mas que acaba tropeçando na qualidade, é a localização para português brasileiro. Além do idioma do jogo sincronizar com o do console, deixando de oferecer a mudança via menu, a escrita do jogo parece não fazer jus ao trabalho original, cometendo alguns erros grotescos e bastante confusos de tradução. Eu sempre optei por jogar esse tipo de jogo na minha língua nativa, mas desta vez vou ficar com o inglês mesmo.

Veredito

Elden Ring é o tipo de jogo que já me imagino comentando por anos a fio, sem me repetir muito, tamanha qualidade e quantidade de conteúdo que ele oferece. A FromSoftware acertou a mão em quase tudo que se propôs a executar no RPG, impressionando novamente em termos de estética, estrutura e narrativa. Elden Ring está disponível para PC, Xbox Series S/X, PS4, PS5.

Requisitos técnicos (PC)

Mínimos: Recomendados

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